quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Ligações Futuras

A estrutura de ferro pintado de branco das mesas parecia leve, e ornava perfeitamente com os guarda-sóis rosa e laranja que se colocavam aqui e alí entre as mesas. O café não estava completamente cheio e os garçons andavam sem muita pressa por entre os clientes sentados. O olhar de Marina parecia vago quando percebeu uma mão acenar a centímetros de seu nariz:

- Ei, Má! Acorda!

- Que foi, tô aqui Jú.

- Não tá não, você estava muito, muito longe.

- Ai Jú, você sabe que eu não tô bem. Ainda to sentindo muita falta do Pedro.

- Pelo amor de Deus, mulher! Faz três meses já, desencana disso.

- Primeiro, você sabe que eu não acredito em Deus. E segundo, eu tento Jú, eu juro que eu tento. Mas até esse café me lembra ele.

- Também pudera, monga, vocês dois vinham aqui dia sim, dia não.

- Monga é a sua... - Marina parou a frase no meio e enfiou a mão na bolsa - Espera um pouco, acho que meu celular está tocando.

Depois de tirar um kit de maquiagem, quatro cores diferentes de gloss, uma agenda e uma carteira rosa, a jovem achou o celular, que agora vibrava em sua mão. Antes de atender, olhou para o visor externo:

- Ai pode ser o Pedro! - disse Marina, soando como uma criança vendo um pacote fechado de presente.

- Como assim "pode ser", o nome dele não aparece aí no visor? - respondeu a outra, sem se mexer da cadeira.

- Não, eu apaguei o telefone dele. - replicou novamente Marina, rindo, enquanto lia em voz alta o número para ver se a amiga reconhecia.

- O sua lesada! Esse número que você falou é do seu celular!

Marina não respondeu, já havia aberto o celular e acabara de encostá-lo na orelha.

- Alôu! Isso, é Marina. Quem fala? QUÊ? - de repente, ficou pálida.

Afastou o celular da orelha e leu novamente o número para si mesma. Apertou o botão de viva-voz, para que a amiga pudesse ouvir.

-Alô, Marina.

- Estou... estou aqui. Você pode me repetir quem você é por favor? - disse, olhando para Juliana e apontando para o celular como se um inseto fosse voar de dentro dele ao invés da resposta.

- Já te falei Marina. Isso pode parecer meio estranho, mas eu sou você! Na verdade eu sou você daqui vinte e três anos.

- Isso não é possivel! - disse Juliana em voz alta, soltando-se contra o encosto de costas da cadeira.

- Olha, a Jú tá aí comigo? Nossa, já sei, vocês estão no Café? Aquele das mesinhas brancas? Eu lembro desse dia... Aii, como chamava, saco. Aproveitem esse lugar, ele fecha em menos de um ano.

- Ai Má, é sua voz mesmo. E o seu jeitinho de falar no celular.

- É... mas... o que você quer comigo, digo, com você. COM NóS, sei lá! - interrompeu Marina, fazendo sinal de silência para Juliana.

- Bom, tô te ligando porque minha terapeuta disse que seria o melhor a fazer. Depois de algumas sessões ela conseguiu achar esse aninho de sofrimento no meu passado e achou melhor dar uma ajudinha nele. Então resolvi te contar que terminar com o Pedro foi a melhor coisa que você fez, mas nós - digo, eu e você, ou só eu - sofri demais porque não sabia que tudo daria tão certo um tempinho depois.

- Você quer dizer que...

- Quero dizer que você não precisa ficar sofrendo mais. Todas as decisões que você tomou foram ótimas. Nossa vida não podia estar mais perfeita. O recado é esse: não mude nenhuma das decisões que você vai tomar, você acertou toooooddas! Lindona, preciso desligar porque você não imagina como fica caro ligar pro passado.

- Não, espera. Isso só pode ser uma brincadeira de mal gosto, você não disse se. - o telefone ficou mudo e a ligação caiu.

- Meu Deus Má, você é uma mão-de-vaca até no futuro. Desligou assim, na nossa cara, só pra não pagar caro!

- Meu, não sei o que fazer!

- Como assim, não sabe?

- É, tava pensando em voltar com o Pedro. Mas to com uma tremenda dúvida. E eu no futuro disse que terminar com o Pedro foi a melhor coisa que eu fiz, e que tudo que eu decidi foi perfeitinho. Agora... o que que eu decidi? Voltar ou não com ele?

- Ai, que papo de louco. Meu, você não acreditou nessa história de ser você no telefone?

- Ahhhh, e você não acreditou?

- Claro que não, monga!

- Aham, sei. Então porque você falou que era meu jeito de falar?

- Porque sim, Má. Sei lá, pode ser o Pedro te zoando com um programa de computador.

- Ai Jú, não tá me ajudando nada assim. Vai, finge que você acreditou. O que você faria?

- Bom, vamos lá. Se ela falou que você acertou em tudo que você decidiu, e você, antes da ligação, tava querendo voltar com o Pedro, volta logo!

- Mas porque ela falou que eu sofri um ano. Faz só três meses que nós terminamos.

- Ai Má... ela falou um ano porque você é exagerada mesmo! Sempre foi! Volta logo com o Pedro.

Alguns minutos de conversa depois Marina já tinha ligado para o ex-namorado e pedido para ele encontrá-la no café em que estavam.
Quando ele chegou Juliana já tinha ido embora, como havia combinado com a amiga. Os dois conversaram quase uma hora, e quando levantaram da mesa já estavam de mãos dadas. O sorriso de Marina cobria-lhe o rosto todo. Seu eu futuro estava certa, pensou, não podia estar mais feliz.
Pagaram a conta e saíram do café. Antes de atravessarem a rua Marina virou-se para Pedro. Beijou rapidamente, com risinhos, e tornou a virar o corpo e marchar em direção à rua. Um carro em alta velocidade cruzou a rua no mesmo momento.

- Saco! Ela entendeu tudo errado! - disse a Marina do futuro e deixou de existir.

4 comentários:

Marina Hóss disse...

Eu sonhei que meu ex/peguete me matava essa noite, será que são sinais do meu futuro trágico? rsrsrsrsrsr

Patrícia Nogueira disse...

ai ai ai celso.. queria tanto receber um telefone do futuro, me dizendo que eu achei um emprego super legal, na cidade que eu queria, trabalhando com educaçao.. rs. Eh um saco estar meio perdida e nao conseguir entender as coisas que acontecem né...!

Bref.. mto bom os outros textos tb! li alguns de agosto que ainda nao tinha lido.

Beijos!!

Anônimo disse...

celso: eu gosto de mim pra caramba no futuro! hahahahahah

de qual água vc tá bebendo? recebi uma sorte do dia, mas mereço repassá-la:
"imaginação é melhor do que conhecimento".

Parabéns garoto!

René, do presente, ainda...

Anônimo disse...

PS: "preciso desligar porque você não imagina como fica caro ligar pro passado."
hahahahahahahahahhahah

muito bom!
já já teremos planos de tarifas dependendo da distância... das datas:
2 anos - R$ 1,30 / minuto
4 anos - R$ 2,60 / minuto
e assim por diante...

Obs: números de anos ímpares não serão permitidos pela Regulamentação nº 78332 da Anatel.